Minha Sinagoguinha
Por: Simão Arão Pecher
Ah! Que saudade da minha Sinagoguinha em Macapá, capital do antigo Território Federal do Amapá (atual Estado do Amapá), situada no alpendre da casa da tia Esther Zagury Bemerguy (Z’L), irmã da minha mãe Syme(Z’L). Lá estava uma grande mesa retangular, que nas grandes festividades judaicas abrigava toda a comunidade em volta da Torázinha que meu pai Nuta (Natan) (Z’L) ganhou da sua irmã Susy(Z’L) de Israel. Roshashaná, Yom Kipur e Pessach eram comemorados com fervor pelas nossas poucas famílias. O esteio maior dos judeus no Amapá foi plantado pelo meu avô Leão Zagury(Z’L), que lá chegou com sua esposa Sara Roffé Zagury(Z’L) em fins do século XIX, oriundo de Marrocos, chegando a receber patente de Capitão do Exército pela defesa do solo brasileiro na Fortaleza de Macapá, marco histórico da conquista portuguesa na Amazônia.
Meu pai (Nuta Wolf Pecher)(Z’L) foi o primeiro asquenazi do Amapá ao chegar em 1949 com sua grande família (eu e minha mãe Syme Zagury Pecher(Z’L)) oriundos de Belém do Pará. Os Zagury, os Bemerguy, os Alcolumbre, os Peres, os Benoliel, os Barcessat, e os Amar eram todos descendentes de sefaradi marroquinos que fugiram dos “pogroms” e perseguições, para tentar uma nova vida num novo mundo melhor.
Havia dois Jaimes, o Barcessat, que nós chamávamos de Jaimão(Z’L), por ser alto, e o Amar, que era baixinho e franzino, carinhosamente apelidado de Jaiminho(Z’L). Os dois rezavam em todas as festividades, portanto eram os nossos Hazans.
Aprendi a “meldar” com o meu querido professor Jaiminho(Z’L), claro tendo minhas limitações pois ele não era letrado. Assim, aos meus treze anos fiz o meu BAR-MITZVÁ. Foi uma festa bonita em minha casa de madeira, que batizei de “Primeira Missa no Brasil”, pois as poucas famílias judaicas estavam carinhosamente cercadas por amigos gentios, tal como quando Cabral rezou ao aportar em solo brasileiro em 1500, tendo em volta curiosos nativos por todos os lados.
Na minha Sinagoguinha foi apresentada a nossa “grande” comunidade tia Rachel, recém-casada no Rio de Janeiro com o tio Moisés Zagury. Também vi o início do namoro do primo Mair (filho da tia Esther e tio Naftali Bemerguy)(Z’L) com a Helena Aben-Athar, que veio de Belém, que culminou em um feliz casamento, igualzinho como se faz até hoje nas grandes sinagogas de alhures.
Saboreei naquela grande mesa retangular pela primeira vez o “Halawi” oriundo de Israel. Que gostosura!
Lá ouvi os primeiros acordes de “HATIKVA” (Esperança) , hino de Israel, tocado numa vitrola em setenta e oito rotações por minuto. Foi uma grande festa neste dia de 1954.
Para cumprir as “mitzvots” das festas judaicas, lembro-me perfeitamente bem que meu pai e meus tios tinham que “mandar recado” para os compatriotas fechar seus “negócios” , isto é, casas comerciais e repartições onde trabalhavam e vir rezar pois eram dias santificados, que jamais poderíamos esquecer e que tinha de ter “minian”.
(*) Dr.Simão Arão Pecher : Imortal da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) e Prof. Titular de Dermatologia da Universidade Federal do Amazonas. Especialista em alergia e dermatologia. sapecher@hotmail.com
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