Arquivos de Família
Família Elmaleh Salgado
Introdução
Histórico Familiar de: Elias Salgado
Meu nome é Elias Salgado. Sou filho de David Salgado e Wilma (Miriam) Souza Salgado.
Pelo lado paterno, sou bisneto de Messoda Davila e Reuven Elmaleh.
Messoda casou-se em segundas núpcias com um membro da família Aflalo.
Meu tio Rubem Salgado, irmão mais velho de meu pai, que estudou por 3 anos na Aliança Israelita Universal em Casablanca, foi para lá e viveu, à convite de Menahem Aflalo, em sua casa.
Sou neto pelo lado paterno, de Lázaro Salgado (Eliezer Elmaleh) e Sime Alves (Elbaz) Salgado.
E pelo lado materno, sou bisneto de Joaquim Silva e Ana Amélia Oliveira e neto de Francisco Souza e Elcina de Oliveira Souza.
Meus Avós
Chegaram ao Brasil no sec. XIX, na época do ciclo da borracha e estabeleceram-se no Amazonas em busca de uma vida melhor. Outros foram para Israel, França, Canadá e Inglaterra, seguindo as levas migratórias de judeus para aqueles países, na mesma época.
Um dos sobrenomes originais deste ramo era Elmaleh que significa, o bom, o melhor e vem do árabe medieval falado na Espanha.
O outro era Elbaz, que é o nome de uma cidade espanhola, que provavelmente assim se chama, oriundo da palavra albaz em árabe que significa falcão.
Em Portugal existe no Alentejo, no distrito de PortoAlegre, uma cidade de nome Elvas.
(ver Laredo A. Les names de juifs du Maroc e Abecassis,)
Meus avós falavam: árabe, francês e principalmente, espanhol e “haquetia” (dialeto dos judeus marroquinos de origem sefaradi, que mescla o hebraico, o árabe e o espanhol e depois o português aqui na Amazõnia.
Me acordo perfeitamente que uma das primeiras expressões que me chamaram a atenção, dita por meu pai David Salgado Z”L para o bem e para o mal era “ Mi kadosh Ribi Shimon Bar Iochai.
No princípio não sabia quem era ou que era, mas sabia perfeitamente, da importância e da força de proteção que ele tinha para papai.
Crescemos em minha casa e na família, com outras várias expressões jocosas e outras nem tanto: safon, safonear chojerá, rarrear, hosmim, sachen, sachená, negro mazal, hasta 120 mejorado, kapara por ti, endiamantado, abel, Fadas, menear, maot, adorado, endiamantado (“por que te meneas tanto sachen?), malogrado e etc.
Meu avô Eliezer Elmaleh no Brasil, ao se naturalizar brasileiro, (Lei de anistia aos imigrantes ilegais da 1a. constituição da República, de 1889) traduziu seu nome para Lázaro Salgado, acreditando erroneamente que este fosse o significado em português (idem, ver Laredo A. e Abecassis, J. M., Genealogia Hebraica, Portugal e Gibraltar, sec. XIX e XX).
Já os Elbaz no Brasil, traduziram seu sobrenome para Alves provavelmente, pela proximidade sonora.
Minha avó Sime Alves (Elbaz), possuía 4 irmãos homens:
Mordechai e Aaron – ficaram no Marrocos
David e Salomão – vieram também para o Brasil. Salomâo vivia em Manaus e era o padrinho do meu tio Jaime Salgado, e auxiliou meu pai, David Salgado na época do seu Bar Mitzvá, já que meu avó estava com idade bem avançada e com a saúde muito frágil.
Já meu tio avô, David Alves (Elbaz), de quem meu pai leva o nome, era muito amigo de meu avô Lázaro Salgado (Eliezer Elmaleh) e foi ele quem ajudou meu avô a entrar na atividade de “regatão”(pequeno comercio fluvial).
Os documentos de naturalização e tradução, infelizmente se perderam, mas há a comprovação na literatura acima citada e em seus túmulos, no Cemitério (Beit Chaim) Israelita de Manaus.
O ato de traduzir sobrenomes encontra eco em vários outros casos, entre os judeus que migraram para a Amazônia brasileira, vindos de Marrocos, além de meus avós.
Há um caso curiosíssimo que encontrei (ver “Sobre mitos, coincidências e homônimos:
Trabalhando com carinho de artesão o mosaico familiar”, Elias Salgado, Revista Amazônia Judaica, no.9, dezembro de 2016 e Abecassis, J.M e Wolff, Egon e Frieda, “Sepulturas Israelitas de Belém” de um homônimo meu, (José) Elias Salgado, de origem marroquina, e cujo nome original, também era Elmaleh, sem que fosse nosso parente e sem que jamais se tenham conhecido…
A razão que levou meu avô a tal ato é explicada por seus filhos, pelo fato de que ninguém sabia pronunciar bem seu nome(o chamavam de “o mala “) e ele incomodado com isso e bem adaptado ao Brasil, resolveu, portanto, que teria um sobrenome brasileiro. (Ver: “A presença judaica na Amazônia, sec. XIX e XX:preservação e aculturação. Um estudo através do caso dos Elmaleh/Salgado”, Jornal Amazônia Judaica, Set.2002, Laredo A. e Abecassis, J.M.).
Meus avós, se conheceram no Brasil e se casaram em Tefé, Estado do Amazonas, em 1900. Tiveram 9 filhos: Rubem, Estrella, Abrahão, Jacob, Anna, David, Clara, Alegria e Jaime.
Oito deles se casaram no Brasil, 6 com pessoas nascidas no Brasil e 2 com um marroquino nato, meu tio Saul Bennesby. (Tio Saul, casou primeiro com minha tia Estrella, que infelizmente faleceu muito jovem, deixando-o viúvo e com um filho pequeno, meu primo Moisés Salgado Bennesby. Tempos depois, ele casou com minha tia Anna).
E 1, meu tio Rubem Salgado, filho mais velho do casal, casou-se com Seteé Tangi Israel, de origem portuguesa. Os Israel de Lisboa, eram grandes amigos de meu avô Lázaro Salgado (Eliezer Elmaleh).
Até hoje mantemos contato com nossos primos portugueses que vivem em Lisboa.
David Israel, filho de Jacob Israel, irmão mais velho de nossa tia Seteé.
Meus antepassados paternos (meus avós e seus antecedentes), eram muito religiosos, guardavam todas as tradições judaicas e eram muitos deles, descendentes de grandes rabinos marroquinos. (Ver Laredo,A., Abecassis, J.M. e a Declaração de Messod Sabbah de Rabat, concedida a meu tio Rubem Salgado, irmão mais velho de meu pai e filho de Eliezer Elmaleh e Sime Elbaz, que é o documento mais antigo e de longe o mais importante que possuímos da origem da nossa família, os Elmaleh)
O outro ramo, o de meus avós maternos, é brasileiro, certamente de origem cristã nova, não comprovada, mas muito provavelmente com raízes entre os cristãos-novos que colonizaram o Brasil.
Um sobrenome é Souza e se estabeleceu no Ceará e depois no Amazonas e o outro Oliveira, os dois de origem portuguesa.
Profissão e Atividades
Meus avós.
Meu avô Lázaro Salgado (Eliezer Elmaleh) era um Chazan, mohel, shochet e Shaliach Tzibur (espécie de líder religioso), que organizava em sua casa em Tefé no interior do Amazonas e depois em Manaus, no Estado do Amazonas, minianim, para meldados no Shabat e nos chaguim .Realizava Brit Milá, preparava para Bar Mitzvá, celebrava casamentos e cuidava de enterros.
No cemitério de Manaus foram encontrados registros em seu nome, solicitando kvirá para várias pessoas da kehilá (Registros encontrados por Anne Benzecry Benchimol ex-Presidente do CIAM – Comitê Israelita do Amazonas).
Trabalhava no comércio pelos rios amazônicos (“regatão”). Como regatão (comerciante), parece que meu avô não teve muito sucesso. O que ele realmente gostava, era das suas atividades religiosas.
Os testemunhos de tais atividades chegaram a mim, através de relatos orais de familiares (seus filhos, meu pai e meus tios e tias, em conversas informais em reuniões familiares e em registros feitos em depoimentos e entrevistas para diversos trabalhos e artigos acadêmicos e livro que escrevi. (ver “História e memória, judeus industrialização do Amazonas, Elias e David Salgado, Ed. Amazônia Judaica, 2015; “A presença judaica na Amazônia, sec. XIX e XX:preservação e aculturação. Um estudo através do caso dos Elmaleh/Salgado”, Jornal Amazônia Judaica, Set.2002)
Para corroborar, citamos aqui um documento: a Ketubá do matrimônio de Isaac Israel Benchimol e Nina Serqueira Benchimol, confeccionada e assinada por ele em hebraico, como Eliezer Elmaleh (Elmaliach em hebraico), sendo ele o celebrante. Saul Benchimol, filho de Isaac e Nina Benchimol, confirma tais atividades em entrevista no livro “ História e Memória” supracitado.
Vários depoimentos de familiares e de outros membros antigos da Kehilá de Manaus, afirmam que meu avô Lázaro Salgado e meu tio Miguel Azoulay, foram os responsáveis pela vinda do primeiro Sefer Torá para Manaus.
Vovô tentou (ninguém lembra em que ano), realizar uma viagem ao Marrocos para visitar sua família de lá (ele foi o único da sua família que veio para o Brasil), mas o navio em que viajava, naufragou no litoral do Ceará, nordeste do Brasil. Ele sobreviveu, mas não tentou outra viagem.
Ele viveu até os 74 anos e foi enterrado por seus filhos no Beit Chaim (Cemitério) Israelita de Manaus, em 1929. Cemitério que ele mesmo, muito lutou para que existisse e que foi fundado em 1928, um ano antes de seu falecimento.
Minha avó Sime Alves (Elbaz) era dona de casa. Como a diferença de idade entre os dois era muito grande (24 anos), vovó ficou viúva por 30 anos e ajudada por seus filhos mais velhos e por seus dois irmãos (David e Salomão Alves (Elbaz)), tocou uma vidinha muito simples.
Meu pai e minha mãe relatam, que até o final da vida, vovó Sime guardou todas as mitzvot, o Shabat e os chaguim. Que fazia sua própria shchitá de galinhas e mantinha um pequeno fogaréu de carvão aceso em fogo baixo, para aquecimento dos alimentos durante o Shabat e Iamim Tovim, principalmente sua deliciosa Adafina, o famoso cozido dos judeus marroquinos, que segundo mamãe era uma delícia.
Faleceu aos 80 de idade, no ano de 1959 e está enterrada no Beit Chaim (cemitério) Israelita de Manaus.
Infelizmente, não tive a felicidade de conhece-los, mas cresci com suas memórias vivas e presentes em minha casa.
Meus pais
Meu pai, David Salgado era funcionário da Fazenda e comerciante, e minha mãe Wilma Salgado é dona de casa.
Papai nasceu na cidade de Manaus em 1914. Nesta época ainda não havia na capital (Manaus) uma kehilá bem estruturada e as tefilot e cerimônias eram feitas em minianim para meldados organizados em casas particulares, até que nos anos 20 foi fundada a primeira esnoga e o Cemitério Israelita (em 1928), onde ele foi enterrado em, 20 de maio de 2002.
Como seu pai faleceu quando ainda era muito jovem (15 anos), cedo teve que começar a trabalhar para ajudar sua mãe.
Seu Bar Mitzvá foi celebrado na Sinagoga Beit Yaacov, fundada em 1925, auxiliado por seu tio Salomão Alves (Elbaz), irmão de sua mãe. Foi preparado pelo Chacham Jacob Azoulay, que também foi o celebrante.
Devido a dureza da vida teve pouca instrução formal e também judaica.
Aos 20 anos, em 1934, assumiu o cargo de Coletor de Rendas na cidade de Boca do Acre, interior do Amazonas, fato que o obrigou a afastar-se por longo período da vida em comunidade, já que éramos a única família judia da cidade.(Sobre este período da vida da nossa família, os Elmaleh/Salgado em Boca do Acre, ver: “O Fim do Mundo e outras histórias de beira-rio, livro de contos e crônicas sobre meus primeiros 5 anos de vida,. Elias Salgado. Ed. Talú. 2015)
Mas papai lutou muito para vencer e para preservar as tradições judaicas que havia herdado de seus pais, mesmo não possuindo grandes conhecimentos da halachá.
Na primeira oportunidade, trasladou sua família para a capital (Manaus), no início dos anos 60, para que seus filhos pudessem, diferente, dele, usufruir de uma melhor formação formal e judaica.
Graças a esta sua iniciativa, todos os seus 7 filhos, receberam educação formal, muitos até a universidade e também educação judaica.
No final dos anos 60 a família passa a viver no Rio de Janeiro. Mas David Salgado não se adapta, o casal se separa e parte da família volta a viver com ele em Manaus e a outra permanece no Rio com a mãe.
(Depoimento/entrevista com David Salgado em 19/081998 em Manaus – por Elias Salgado (ver manuscrito anotações originais na “pasta dos elmaleh-salgado”)
Todos os seus anos de vida em Manaus, meu pai David Salgado, manteve uma vida judaica plena, meldando toda semana em nossa querida esnoga, celebrando o Shabat e todos os Chaguim e frequentando assiduamente as Hilulot, principalmente a de Ribi Shimon Bar Iochai, a mais popular entre nós, descendentes de marroquinos ibéricos, para qual doava fartas prendas todos os anos, os Sedarim de Pessach comunitários e as belas Festas de Mimouna.
Papai era sócio do CIAM –Comitê Israelita do Amazonas, mantenedor da Sinagoga Beit Yaacov-Ribi Meyr de Manaus. E sempre manteve uma cadeira em seu nome, naquela sinagoga, que, mantemos até hoje, junto a de meu irmão Moisés Salgado , que ainda vive em Manaus e a de meu sobrinho, seu filho, Gabriel Salgado.
Eles, meu irmão Salomão Salgado e meu irmão Eliezer Salgado e suas famílias são os remanescentes dos Elmaleh/Salgado em Manaus. Eu, mamãe, Wilma Souza Salgado e minha família, vivemos no Rio de Janeiro. Minha irmã Jamila Salgado e sua família em São Paulo. Meu irmão e sócio, na Editora Amazônia Judaica, o chazan, David Salgado Filho, vive há mais de uma década em Modiin, Israel. E minha irmã mais velha, Alegria Salgado, já é falecida.
(Sobre a vida de meu pai David Salgado, ver depoimento /obituário escrito por seu filho David Salgado Filho no Jornal Amazônia Judaica, junho/2002)
Minha mãe, nasceu na cidade de Boca do Acre, é filha de Francisco Souza e Elcina Oliveira Souza. Converteu-se ao judaísmo no Rio de Janeiro, na sinagoga Beth-El, do CIB-Clube Israelita Brasileiro, esnoga de judeus sefaraditas, com o Rabino Masliach Melamed, autor do Chumash “ A lei de Moisés”, quando conheceu meu pai e quiseram se casar no final dos anos 50.
Do casamento de meus pais, eu tenho três irmãos: Salomão Salgado, David Salgado e Moisés Salgado.
De casamentos anteriores, papai teve mais três filhos, que são meus irmãos mais velhos: Alegria Salgado Z”L, Jamila Salgado e Eliezer Salgado, que conforme antiga tradição sefaradi, como foi seu primeiro filho homem, recebeu o nome de seu pai, meu avô Eliezer Elmaleh.
O mesmo fez meu irmão Eliezer Salgado, dando a um de seus filhos o nome de nosso pai, David Salgado, continuando uma hada (costume) sefaradi milenar de “nombrar” seus filhos com nomes de entes queridos ainda vivos, para homenageá-los em vida.
Papai ainda teve a felicidade em vida, de ver nascerem 15 netos e dois bisnetos e de ser o orgulhoso sandak de 2 destes netos, como manda a mesma tradição sefaradi, quando estabelece que o sandak do primeiro filho é o avô paterno.
Eu e Minha Família
Elias Salgado
Nasci no município de Boca do Acre, interior do Amazonas, em 05 /02/1958, cidade onde vivi até os 5 anos, quando me trasladei para a capital do Amazonas, Manaus.
Boca do Acre era uma antiga aldeia indígena, com algumas centenas de habitantes.
Em Boca do Acre, nós os Salgado (Elmaleh), éramos a única família judia da cidade.
(Sobre este período de minha vida, ver meu livro de contos e crônicas “ O Fim do Mundo e outras histórias de beira-rio. Ed, Talú, 2015)
Em 1963, papai trasladou a família para Manaus para que pudéssemos ter continuação na nossa educação formal e iniciação em nossa formação judaica.
Em Manaus, passamos a viver num gigantesco casarão do final do Sec. XIX, que fora construído para ser uma escola. Era o “Casarão da 7 de Setembro.”
Lembro-me perfeitamente, que em nosso imenso quintal, papai mandou construir um enorme galinheiro para criar galinhas para abate kasher e consumo da família.
Nos shabatot e chaguim, vinha à nossa casa o chacham Jacob Azoulay e fazia shchitá. E em Yom Kipur fazia a cerimônia da kapará.
Papai sempre mandava abater animais em quantidade superior às nossas necessidades para distribuir entre familiares e amigos.
Em Manaus fui alfabetizado tanto em português, quanto em hebraico, na Esnoga Beit Yaacov – Ribi Meyr, pelo chacham marroquino Jacob Azoulay, o mesmo que preparou meu pai e celebrou o seu Bar Mitzvá. O mesmo chacham, que em 1971 me preparou e celebrou o meu próprio Bar Mitzvá.
Quando eu tinha 8 anos, em 1966, nos mudamos para o Rio de Janeiro. No Rio, frequentávamos a Sinagoga Shel Guemilut Hassadim, de rito português-marroquino e que foi fundada por judeus do Marrocos, em sua maioria, no sec. XIX (foi a primeira sinagoga do Rio).
A “Shel” como todos no Rio a chamam, é também, a sinagoga que sempre foi frequentada pelos judeus marroquinos da Amazônia que migram para o Rio. Dentre eles inúmeros membros de minha família, como meus tios: Rubem Salgado, Abraham Salgado, Clara Salgado Azoulay, Anna Salgado Bennesby e Alegria Salgado Bohadana.
Meu Tio Rubem Salgado, foi por muitas décadas membro de sua diretoria.
Papai nos colocou a todos em escola judaica. Eu estudei no Colégio Israelita A. Liessin. Também frequentava o Movimento Juvenil Sionista Hashomer Hatzair.
Passei aqueles anos convivendo com a minha família paterna e todos os parentes e amigos de origem sefaradi. E com amigos da escola e comunidade judaica carioca e frequentava diariamente o Clube Hebraica-Rio.
Em 1969, meus pais se separaram e eu voltei com papai para Manaus. Neste período, celebrei meu Bar Mitzvá e frequentava com meu pai e meus irmãos, a Sinagoga Beit Yaacov-Ribi Mey, a única que existia à época, na kehilá de Manaus, todo Kabalat Shabat, todos os chaguim , e todas as atividades religiosas e judaico-comunitárias organizadas pelo CIAM – Comitê Israelita do Amazonas.
Em 1972, após realizar meu Bar Mitzvá, voltei para o Rio para estudar na Yeshivá Machané Israel, criada pelo Rav Biniamini, de linha chassídica e que à época, era a única Yeshivá do Brasil, localizada na Região Serrana do Estado do Rio. Lá permaneci por dois anos.
Foram, talvez, os anos mais fundamentais para a minha formação judaica. Ali aprendi muito sobre prática de mitzvot, Tanach, Talmud e Halachá, que são parte importante dos alicerces da minha formação judaica.
Mesmo sendo a Yeshivá, de nussach e maioria ashkenazi, não perdi os costumes e liturgia sefaradi-marroquina que adquiri em minha kehilá original, pois não era o único judeu da Amazônia, éramos vários colegas daquela região com origem sefaradi.
Em 1974, com uma bolsa de 3 anos da Machlaká LeAliat Hanoach da Sochnut Ha Iehudit, fui estudar minha secundária (Tichon) em Israel, onde permaneci até o final de 1976 e concluí minha Bagrut (Madureza), prestando provas para o Misrad Hachinuch com sucesso.
Israel foi uma experiência marcante em vários aspectos: a vida saudável em uma escola de altíssimo padrão pedagógico (Mossad Chinuchi Mosinzon, em Hod Hasharon). A convivência saudável com jovens judeus de várias nacionalidades (amigos que preservo por mais de 40 anos!).
Conhecer ao vivo e a cores a realidade israeli e adquirir uma formação sólida em Cultura Judaica, História Judaica, Tanach, Talmud e idioma hebraico e literatura israelense, que me deram bases sólidadas para minha formação e profissão de moré de Cultura Judaica.
Quando voltei ao Brasil, no final de 1977, após passar quase um ano vivendo na Espanha, tentando em vão, realizar o sonho de cursar minha graduação numa
universidade espanhola, o que me foi negado à época, porque não havia relações diplomáticas e culturais entre Israel e Espanha, e meus diplomas e boletins de nada valiam para os espanhóis…Foi uma grande decepção.
À contragosto, voltei para o Brasil para cursar a faculdade de Economia e História, no Rio.
Como necessitava trabalhar, busquei meu primeiro emprego no Brasil. Eu não sabia que possuía uma profissão. Fui saber quando visitei minha ex-escola o A. Liessin, em busca de um emprego qualquer. Chegando lá me deparei com minha ex-diretora D. Rosália Heizeriger Z”L, que ao saber da minha trajetória e estudos até ali, no Brasil e em Israel, me disse que eu tinha plena capacidade para ser um professor de Cultura Judaica. E assim, graças a ela me tornei o “moré Elias Salgado” e não parei mais.
Trabalhei como moré por mais de 2 décadas. Concomitantemente, me graduei em Economia.
Além das atividades de moré nas escolas da kehilá do Rio, passei a trabalhar na Organização Sionista Unificada do Rio de Janeiro, coordenando a Machlaká LeDor Hemshech e o seu Fórum de Estudos Judaicos.
Neste período (de 1978 a 1986) voltei à Israel por 3 vezes para participar de seminários de aperfeiçoamento (Ishtalmuiot Lemorim baGolá) da Machlaká LeChinuch BaGolá da Sochnut Haiehudit.
Num destes seminários(1983), conheci Claudia Jurberg, ex-aluna de uma das escolas onde trabalhava. Em 1985 nos casamos na Sinagoga da ARI – Associação Religiosa Israelita. Tive que “ceder” ao lado ashkenazi de sua família e não me casei na Shel. (ver ketubá do nosso casamento, realizado pelo Rav Roberto Graetz.
À época meu pai, zichonó livrachá, ficou bastante decepcionado…
Do nosso casamento, nasceram nossas duas filhas adoradas: Tamara Jurberg Salgado e Luna Jurberg Salgado.
Os nomes foram escolhidos dentre nomes usualmente usados por judeus sefaradim marroquinos.
Em 1996, nos separamos e em 1997 consegui uma bolsa para realizar um velho e alentado sonho: o mestrado na Universidade Hebraica de Jerusalém.
Lá realizei minha pós-graduação em educação e História Judaica, apresentando um projeto sobre o ensino de História dos Judeus no Brasil, o primeiro do seu gênero no Brasil, intitulado: “Historia VeZehut: haitnassut shel haiehudim beBrazil”(História e Identidade: a experiência dos judeus no Brasil”), sob a orientação da PhD Professor Dalia Ofer, do Departamento de História Contemporânea daquela universidade.(Ver cópia anexa)
Durante minha pós-graduação em Jerusalém, realizei, paralelamente ao projeto principal, outras duas pesquisas: uma sobre a origem e a genealogia do meu ramo Elmaleh e Elbaz (ver vários artigos, documentação e bibliografia em anexo) e outro sobre os Judeus na Amazônia.
Desde então, venho me dedicando com afinco e paixão à pesquisa e ao estudo do referido tema, e sou atualmente, um dos poucos especialistas do tema no Brasil (ver vários artigos e o livro “História e memória: judeus e industrialização no Amazonas”)
Foi mais uma experiência pessoal e profissional plena e marcante. Israel do final dos anos 90 era para mim, um outro país, muito diferente daquele que que eu havia conhecido: havia crescido, se desenvolvido ainda mais; era mais cosmopolita e a vida universitária entre pares educadores judeus de vários países da Golá e de Israel, foi deveras enriquecedora.
Ali se deu meu ingresso na vida acadêmica e além de educador e professor, me tornei um pesquisador dos judeus da Amazônia.
Na volta ao Brasil, em 1998, assumi a Coordenação Pedagógica da Merkaziá Pedagoguit do Vaad Hachinuch da kehilá Rio de Janeiro .
Meu projeto foi introduzido em 3 escolas do rio, 2 de São Paulo, 1 de Curitiba e 1 de Belo Horizonte.
Vários cursos, ciclos e Ishtalmuiot (Especializações) foram realizados e inúmeros livros e apostilas didáticas, foram editadas, sob minha coordenação. (ver cópias anexas).
Paralelamente, fui coordenador de História Judaica da minha ex-escola, o A.Liessin e da O.R.T – Rio.
Em 2006, assumi, simultaneamente, a Diretoria cultural do Centro Cultural Mordechai Anilevitch e criei com vários colegas pesquisadores, o Arquivo Histórico do Hashomer Hatzair Rio.
Em 2009, participei da criação do NIEJ – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), do qual sou Pesquisador Associado.
Sou também, co-fundador do CONFARAD- Conselho Sefaradi do Brasil (ver cópia da Ata de Fundação em anexo)
Em 2010, me associei à meu irmão David Salgado Filho, no projeto Amazônia Judaica (www.amazoniajudaica.com.br), composto atualmente de uma editora (Ed. Amazônia Judaica), um portal na internet e um Arquivo Histórico (Arquivo Digital Amazônia Judaica www.amazoniajudaica.com.br A editora, edita a revista Amazônia Judaica (www.issuu.com/aj200) e livros: a Coleção “NER” de livros religiosos (sidurim, machzorim e a única Hagadá de Rito Sefaradi-marroquino, editada em hebraico e português. Os livros da Coleção NER,(www.amazoniajudaica.org/lojavirtual) são elaborados em parceria entre o Rabino Moysés Elmescany da kehilá de Belém, do Pará e meu irmão, o chazan David Salgado e recebem apoio da vária famílias das kehilot da Amazônia e da Shavei Israel, de Jerusalém, e são muito solicitados em várias kehilot sefaradiot no Brasil, em Portugal e em Israel.
Editamos também, livros sobre o judaísmo, a memória e a história dos judeus da Amazônia.
Vida Judaica Pessoal
Elias Salgado
Sou um judeu tradicional não religioso, que celebra o Shabat e todos os chaguim.
Continuo frequentando aqui no Rio, onde vivo atualmente, a Sinagoga Shel Guemilut Hassadim e da qual tenho o imenso kavod de ser um sócio contribuinte e lá mantenho uma cadeira para a família que leva o nome do meu amado tio RUBEM SALGADO Z”L membro ilustre daquela sagrada esnoga.
Muitos dos meus tios, tias e primos mais velhos já faleceram e eu e minhas amadas filhas, somos dos poucos remanescentes e representantes do ramo EMALEH/SALGADO naquela esnoga, fato que me enche de orgulho, mas também me preocupa.
Quando vou à Manaus à trabalho ou de visita a meus irmãos, mato as saudades da minha tão amada esnoga da infância e dos meus antepassados, a Beit Yaacov-Ribi Meyr.
Sobre a genealogia da Família Elmaleh-Salgado e a comprovação de sua origem sefaradita e da tradução do sobrenome Elmaleh para Salgado
Em documentos religiosos, familiares e de arquivo
O documento judaico (religioso) mais importante que possuímos, referente a comprovação das origens de nosso ramo familiar, os ELMALEH-SALGADO, descendentes de ELIEZER ELMALEH E SIME ELBAZ (LÁZARO SALGADO E SIME ALVES), bem como a sua longa ascendência, é uma Declaração em três idiomas – espanhol, francês e arbia, escrita e assinada por Messod Sabbah em Rabat no Marrocos, em julho de 1921 (Tammuz 5681).
Esta declaração foi solicitada e concedida a RUBEM SALGADO (ELMALEH), filho mais velho de ELIEZER ELMALEH E SIME ELBAZ, como “documento pré-nupcial” para a comprovação de origem do mesmo e posterior elaboração da Ketubá do seu casamento com SETEÉ TANGI ISRAEL(nascida em Lisboa, em 03/12/1903), celebrado na Sinagoga Shaarei Tikvá de Lisboa, no dia 21/07/1927.
A partir desta declaração, o historiador e genealogista, DOV COHEN, do Central Archives of the Jewish People localizado no Campus de Guivat Ram da Hebrew University of Jerusalém, logrou confeccionar a Árvore Genealógica dos Antecedentes de ELIEZER ELMALEH-LÁZARO SALGADO, remontando à próximo do século XVI.
Com estes dois documentos, a Declaração e a Árvore Genealógica, ELIAS SALGADO, filho de DAVID SALGADO, irmão de RUBEM SALGADO e filho de ELIEZER ELMALEH (LÁZARO SALGADO) e SIME ELBAZ (ALVES), abriu uma coleção (OSSEF) da família ELMALEH/SALGADO, no Central Archives of The Jewish People, em 07/09/1979, quando esteve em Israel por um ano, para estudar a pós graduação no Melton Centre da Hebrew University of Jerusalém.
Na Ketubá do casamento de Isaac Israel Benchimol e Nina Benchimol, encontramos a assinatura em hebraico de Eliezer ELMALIAH (versão hebraica de ELMALEH), como oficiante do matrimônio. Este documento corrobora as narrativas familiares de que LÁZARO SALGADO (ELIEZER ELMALEH) era um espécie de Chazan e Shaliach Tzibur da comunidade do Amazonas, no interior do estado e na capital Manaus. Os descendentes dos noivos dão testemunho do fato (Ver entrevista de Saul Benchimol, filho de Isaac Israel e Nina Benchimol, no livro de ELIAS E DAVID SALGADO“
História e Memória: judeus e Industrialização no Amazonas”, Ed. Amazônia Judaica, 2015
Em sites de Genealogia na internet
(http://hemelca.tribalpages.com/)
Em 2005, meu irmão DAVID SALGADO, quando de sua aliá para Israel, travou contato com HAIM MELCA, aparentado da família ELMALEH e gerenciador de uma das maiores Arvores Genealógicas dos ELMALEH na internet e descobriu um parentesco com o ramo ELMALEH-SALGADO e cedeu cópias destes documentos ao Sr. Haim, que agregou à sua árvore, o nosso ramo (ELMALEH – SALGADO) ( ver http://hemelca.tribalpages.com/ – VERBETES SALGADO(ELMALEH) E ALVES(ELBAZ).
Na bibliografia genealógica e histórica dos judeus do Marrocos, Espanha, Portugal e Gibraltar
Por algum tempo, pensávamos que teríamos dificuldade em comprovar a origem judaico- sefaradi dos nossos sobrenomes brasileiros SALGADO e ALVES, já que não foram encontrados os documentos de naturalização de ELIEZER ELMALEH e SIME ELBAZ nos quais estão os nomes originais e os traduzidos.
Porém, ELIAS SALGADO, ao realizar pesquisas durante sua Pós graduação na Universidade de Jerusalém (1997-98), encontrou, em dois autores (LAREDO E ABECASSIS), no verbete do sobrenome ELMALEH, um verbete específico de ELIEZER ELMALEH/LÁZARO SALGADO, que destaca que: “um ramo desta família ao emigrar para o Brasil, no início do sec. XX(Sic(?), resolveu traduzir seu sobrenome para SALGADO, acreditando, equivocadamente, ser seu significado originário hebraico de “melah”. ,maluah (salgado):
- BAER, ITZHAK, “ History of Jews in Cristian Spain
- LAREDO, ABRAHAM, I. , “Les noms de juifs du Maroc”
- ABECASSIS, JOSÉ, M. , “Genealogia Hebraica: Portugal e Gibraltar – sec. XIX e XX”
- SALGADO, DAVID, “Um ilustre e provável parente” – www.amazoniajudaica.”org/167563/Um-Ilustre-Prov%C3%A1vel-Parente
- HELLER, REGINALDO,J.“Judeus do Eldorado”, ed. E-Papers/AJ, 2010
- SALGADO, ELIAS– “ Presença judaica na Amazônia – Preservação e aculturação: o caso dos Elmaleh-Salgado”- Jornal Amazônia Judaica, no. 6 – dez 2002
- BENCHIMOL, SAMUEL – “Eretz Amazônia: judeus na Amazônia”. Ed. Valor, 1998
Entrevista com Elias Salgado para o Projeto de História Oral do MUJ – Museu Judaico de São Paulo