Judeus na Amazônia: Novos Estudos, Novos Recortes Temáticos
Por Elias SalgadoNovos Estudos, Novos Recortes Temáticos
Uma maior, crescente e mais rápida circulação de informações e conhecimentos, em diversas áreas de estudos permitem que ambos os lados do referido processo – debatedores e o público assistente; possam usufruir de uma dinâmica enriquecedora para ambos.
No que diz respeito ao nosso tema, os judeus na Amazônia, em particular, várias novidades e tendências podem ser elencadas, como proposta de contribuição ao que chamamos de plano de atualização e ampliação dos estudos, pesquisas e publicações sobre a presença judaica na Amazônia e seus desdobramentos. Sendo assim, tomamos a iniciativa de criar o Projeto Judeus na Amazônia: Novos Estudos, Novos Recortes Temáticos, uma iniciativa do CEJA – Centro de Estudos do Judaísmo Amazônico, cuja proposta maior, é não só contribuir com mais conhecimento, como propor e apoiar novas iniciativas.
Um breve histórico:
O Portal e o Arquivo Histórico Amazônia Judaica foram criados pelos irmãos Elias e David Salgado em 2010, quando dos festejos dos 200 anos da Presença Judaica na Amazônia e desde então vem atuando, visando o estudo, o resgate, o registro e a preservação, do judaísmo amazônico.
Pioneiros em suas atividades, são hoje a única referência mundial do seu gênero, sobre o tema judeus na Amazônia. Nesta década de atuação, chegou a cerca de 5.000 seguidores em todo o mundo, com mais de 500.000 acessos em suas várias páginas de redes sociais e no seu site www.amazoniajudaica.com.br
Amazônia Judaica, como é conhecido entre seus seguidores e colaboradores, é também um complexo editorial e de mídia, constituído por:
- O Portal e o Arquivo Amazônia Judaica
- CEJA – Centro de Estudos do Judaísmo Amazônico
- Editora Talu Cultural
Sobre o projeto Judeus na Amazônia: Novos Estudos, Novos Recortes Temáticos
Em termos históricos, as pesquisas, estudos e a consequente publicação de livros, teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso (TCC), artigos em revistas acadêmicas e em publicações de alcance geral, assim como relatos de participação em congressos e seminários nacionais e internacionais, tiveram início nos anos 70.
No VII Simpósio Nacional de Estudos Judaicos (CEJ – Centro de Estudos Judaicos da USP, outubro de 2015), apresentamos trabalho, inédito em seu gênero: “ (O debate recorrente sobre o papel da História e da memória no fazer historiográfico: o caso dos Judeus na Industrialização do Amazonas”). No referido artigo, é apresentado, entre outros recortes temáticos, o Inventário Bibliográfico da Produção de Estudos Referentes aos Judeus na Amazônia Brasileira, inédito em seu gênero e que deverá ser publicado em forma de livro, pelo selo Amazônia Judaica, sob o título provisório – “Iudaica Amazonensis:
Inventário Bibliográfico da Produção de Estudos Referentes aos Judeus na Amazônia”.
O referido inventário tem início nos anos 70, com artigo do estudioso e professor da UFPA, Eidorfe Moreira, intitulado “Presença Hebraica no Pará”, e passa por livros, teses, artigos e resenhas de autores, listados cronologicamente, como: Egon & Frida Wolff, Abraham Ramiro Bentes, Nachman Falbel, Maria Liberman, Samuel Benchimol, Henrique Veltman, Regina Igel, Amélia Bemerguy, Jeffrey Lesser, Elias e David Salgado, Wagner Bentes Lins, Reginaldo Heller, Dina Paula Santos Nogueira, Lucas Fernandes, entre outros. E aqui nos desculpamos pelas omissões involuntárias, mas cujos trabalhos e publicações, estão registrados e à disposição para leitura, no Portal e no Arquivo Amazônia Judaica e atualizados quase que diariamente.
E assim chegamos aos dias atuais, quando registramos um crescimento geométrico, de um tema até aqui considerado secundário na História do Brasil. Neste quesito, em nossa opinião, grande parte, das razões para tanto, já nem tanto se deve à outrora quase absoluta ausência de estudos e pesquisas, mas sim, porque se trata do estudo de uma etnia estabelecida numa região do país, cuja história é quase totalmente marginalizada e pouco conhecida dos brasileiros.
E, portanto, no nosso entendimento, uma das ações que poderiam contribuir para o início da reversão deste quadro, seria sempre assinalar que a presença judaica na Amazônia, não se dá de maneira isolada, mas sim, dentro de um contexto maior, o da formação histórica, social, econômica e política daquela região. E sempre fazer um grande esforço intelectual para contribuir com outros segmentos de estudos, de maneira que a Amazônia, como um todo, se torne um tema de estudo cada dia mais relevante.
Sobre novas iniciativas e projetos:
Além da produção acima citada, novas iniciativas referentes ao estudo, à pesquisa e à preservação da presença judaica na Amazônia estão surgindo. E cabe destacar algo que consideramos, também, como uma nova e muito importante tendência. Não são mais trabalhos e livros publicados apenas por estudiosos judeus, no que alguns chamam de “pesquisa auto referencial”. Entre eles, agora, encontramos judeus e descendentes de judeus afastados de sua ancestralidade. Neste grupo, observa-se que o interesse pela pesquisa e estudo do tema se dão primeiramente dentro de um processo de volta às raízes étnicas. Este fato aponta para um aumento do interesse não só na quantidade de trabalhos produzidos, mas também na diversificação da origem dos interessados, o que consideramos altamente positivo e enriquecedor para tais estudos. E que, como pioneiros nestas atividades, o Portal e o Arquivo Histórico Amazônia se sentem imensamente felizes e gratificados.
ALGUMAS SUGESTÕES E CONTRIBUIÇÕES DE TEMAS E RECORTES TEMÁTICOS E DE ABORDAGEM, ESTUDO E PRODUÇÃO
Em uma das lives acima citadas, um participante aponta para o fato de que a maioria dos trabalhos que já foram produzidos, estuda fatos e temas de tempos passados. E outro assinala que as fontes de estudo (leituras) se restringem, quase sempre, à obra de Samuel Benchimol.
É fato que sua obra, em particular seu clássico Eretz Amazônia, Judeus na Amazônia e o estudo não publicado como livro, “Os Judeus no Ciclo da Borracha”, são os trabalhos, mais conhecidos do público interessado e estudioso do tema. Mas é certo que em trabalhos mais completos (novos autores, novos estudos acadêmicos), os seus autores têm conhecimento de toda a obra produzida sobre o tema até hoje, sem prescindir da leitura das obras de Benchimol.
Quanto à abrangência cronológica da maioria dos trabalhos já publicados, os estudos históricos, por uma questão inerente à própria essência e objeto da História, trabalham eminentemente, com o passado, num ininterrupto processo de leitura e releitura. E assim a atual historiografia aponta para uma afirmação comumente aceita pelos estudiosos de que o fazer histórico é uma obra para sempre inacabada.
Já trabalhos etnológicos, antropológicos e sociológicos – estes sim bastante raros no que diz respeito aos judeus da Amazônia, estudam e abordam muitas vezes temas mais contemporâneos. Como exceção ao acima afirmado, citamos a tese de doutorado pela USP, “A mão e a luva”, de Wagner Bentes Lins, a dissertação de mestrado pela UFAM, de Dina Paula, publicada sob o título: “ Identidade e Tradição: Um estudo sobre as mulheres da comunidade de Manaus” (2017) e o Projeto de Pesquisa “História e Memória, judeus na industrialização do Amazonas” (2015) de Elias e David Salgado, ambos publicados pelo selo Amazônia Judaica. Este último, um projeto de pesquisa de História Oral, que aborda passado e presente.
Mas fato é, que, apesar do esforço que até aqui vem sendo empreendido por muitos, judeus na Amazônia ainda é tema com um vastíssimo caminho de estudos a ser percorrido. Mas somos bastante otimistas, principalmente por sermos parte integrante do processo e por perceber que a realidade é positiva e que, portanto, o futuro é promissor.
Seria muito gratificante para nós e importante para o desenvolvimento dos estudos dos judeus na Amazônia, como um grupo étnico formador da sociedade e da cultura nacional, que nossas sugestões e outras que certamente surgirão, se transformassem em novas produções.
A seguir, uma pequena lista inicial de sugestões, à qual temos certeza que outras mais serão acrescentadas:
Temas/Recortes históricos diversos
SÉCULOS XVII-XVII
- Cristãos novos na Amazônia – Período Colonial
- Judeus e cristãos novos na invasão holandesa da Amazônia
- Período pombalino: O caso da transferência de população de Mazagão para Amazônia. A criação de Nova Mazagão
SÉCULO XIX ATÉ A 1ª. METADE do SÉCULO XX
- A provável (?) participação do elemento cristão novo na formação da Sociedade de Ajuda Mútua de Belém (Hebrá Shel Guemilut Hassadim)
- O encontro com o outro: Os judeus e os indígenas
- Vários recortes do período áureo do Ciclo da Borracha (Belle Époque):
- A atuação da Hebrá de Manaus antes da criação do CIAM – Comitê Israelita do Amazonas (1929): O caso das polacas
- Os judeus nas artes (Música/Literatura/Artes Plásticas/Teatro)
- Análises comparativas da imigração judaico-marroquina para o Brasil e para outros países sul americanos
- Leituras/ Estudos e produção de artigos e teses diversas, em base a de periódicos judaicos: A Colummna; Voz de Israel ; Folha Israelita e Amazônia Judaica.
- Retorno/Abandono/Migrações consequentes da 1ª. crise da borracha (até anos 30)
- Migrações pós 2ª. guerra.
- Os judeus amazônicos na comunidade judaica de origem marroquina do Rio de Janeiro (Sinagoga Shel Guemilut Hassadim)
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX ATÉ A 1ª. METADE DO SÉCULO XXI:
* Elias Salgado: Pesquisador, escritor e editor. Possui pós graduação em História pela Universidade Hebraica de Jerusalém (HUJI). É fundador e Diretor do Portal e do Arquivo Histórico Amazônia Judaica, do CEJA – Centro de Estudos do Judaísmo da Amazônia ; Pesquisador Associado do NIEJ – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ e membro e Prof. Convidado do NESA – núcleo de Estudos Sefarditas da Amazônia/UFPA- Bragança.